sexta-feira, 23 de novembro de 2007

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tenham um bom fim de semana!

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Mais do mesmo

Cá estou novamente. Eu ia lançar assunto novo, mas resolvi esclarecer alguns pontos de vista acerca do post anterior.

1) Rico tem direito a se indignar, lógico. O problema é que rico só se indigna quando a água bate na bunda, quando a criminalidade deixa a periferia e vem dar as caras nos bairros nobres. Antes disso, só nota os crimes no Jornal Nacional e esquece dois segundos depois, quando a Fátima Bernardes dá um sorriso e passa a tratar de um assunto positivo.

2) Acho sim que rico usa o fato de manter ONG como uma maneira de se eximir da culpa pelo caos social, que é de todos. ONGs ajudam núcleos muito pequenos de pessoas. São importantes para uma comunidade, mas não resolvem o problema geral. O único meio de obter efeito amplo, por mais que isso dê coceiras em alguns, ainda é fazendo política.

3) Muitos discordam, mas mantenho firme minha opinião: ostentar é um crime em um país como o Brasil. Mas ok, vamos partir da idéia de que usar um Rolex é um direito. Por que usar um relógio caríssimo? Porque é bonito, mas muito mais porque se pode comprá-lo, apesar de custar uma fortuna. Enfim, pelo status, que é o que diferencia o rico dos demais. Esses demais desejam, então, esse mesmo status. O problema é: quando conseguirão comprar o relógio caríssimo por vias normais? Nunca. Existem dois caminhos: ficar sem ou tomar. Alguns tomam. Nem sempre para ficar com o relógio, às vezes para usar a grana para outras coisas. No fim das contas, todos são vítimas do dinheiro e do poder que ele oferece.

4) Continuo achando o Luciano Huck um babaca.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Violência assusta Luciano Huck (coitado!)

Hoje de manhã me deparei com um artigo do Luciano Huck publicado na Folha de S. Paulo com o título “Pensamentos quase póstumos”. Nada mais que uma lamentação após um assaltado à mão armada no Jardins, em que a vítima foi ele, um homem que passa o dia “pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana”.
Luciano é apenas uma voz entre as que se erguem, indignadas, das classes mais altas, cujo maior eco está no movimento burguês Cansei. Elas gritam porque a criminalidade está deixando a periferia e invadindo seu território. Palavras do próprio Huck comprovam o quanto isso é incômodo: “Desculpem o desabafo, mas hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio”.
Caro Luciano, você se sentiu como um morador da periferia se sente todos os dias. E ainda quis se eximir da sua parcela de culpa nessa situação alegando pagar seus impostos e dirigir uma ong. A sua mensagem ficou bem clara nas entrelinhas: “Eu pago meus impostos para que o governo mantenha os pobres onde estão e presido uma ong para que eles se contentem com o que têm e não venham tomar o que é meu”.
Você não passa de um riquinho para quem os pobres são como animaizinhos, com quem é legal brincar às vezes e depois rumar para a casa grande e confortável, enquanto eles ficam do lado de fora, em suas casinhas. Animaizinhos que podem ser domesticados e mantidos à distância. Tenho pena de você.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Trabalho dá trabalho demais

A culpa de eu ter largado meu blog às moscas é toda da quantidade de trabalho das últimas semanas. Nesses períodos intensos eu sinto verdadeira inveja dos franceses. Não são eles que trabalham apenas seis horas por dia? Ê vida boa...
Muito trabalho, além de sugar minhas energias, esgotar meus neurônios e tirar minha capacidade de desenvolver qualquer assunto, faz-me não querer ver computador ao chegar em casa. Então eu me pergunto: quem, senhor, consegue ser workaholic?
...
Nenhuma resposta me vem à cabeça. Só uma vontade doida de ganhar na mega-sena e viver de renda o resto da vida. Falta jogar, mas até de ir à lotérica o trabalho me tira a vontade! Isso se chama preguiça, um dos sete pecados capitais. Ou seja, o trabalho não enobrece o homem coisa nenhuma. Nós fomos enganados!
Mas agora que todos já caíram no engodo não há saída. É trabalhar se quisermos ter casa, sair de casa, comer, beber, vestir... Enfim, fazer ou ter qualquer coisa, de um chiclete a um carro zero quilômetro. Então vou me despedindo porque o trabalho ainda não acabou. E o pior, só vai acabar, se é que vai mesmo, daqui uns 40 anos. Acho que ouvi o som da chibata...

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Sobre os cemitérios (!!!)

Adoro andar de ônibus (!!!). Sei lá, a gente tem desses gostos esdrúxulos, né? Mas é que no ônibus eu boto o fonezinho e desato a pensar. Acho que eu gosto mesmo é do devaneio, como o que tive uma noite a caminho da Augusta, faz um tempo já. Quando subia a Consolação, reparei nas esculturas do cemitério que, prostradas nos mausoléus, erguem-se acima do muro.

São bonitas e ao mesmo tempo mórbidas, lúgubres. Eu gosto. O interessante foi que a partir delas me peguei pensando na existência dos cemitérios. Todo mundo sabe o que é um cemitério, mas será que já parou para pensar no seu real significado? Um bando de corpos decompostos ou em decomposição sob a terra. E em uma fração de segundos eu me dei conta do quanto isso é... bizarro.

De repente não vi sentido alguma na existência de um depósito de corpos que já não possuem qualquer utilidade. Afinal, eles são apenas a materialização de algo maior, seja alma, personalidade ou simplesmente vida. Sem nenhuma dessas coisas são apenas carne e ossos, prontos para apodrecerem e alimentarem serezinhos nojentos debaixo da terra. São, praticamente, “lixo”.

Eu já simpatizava – e muito – com a idéia de cremação. Depois disso, ela passou a fazer ainda mais sentido para mim. Evita que espaço seja ocupado e eu fico pensando no quanto isso será útil no dia em que as previsões se concretizarem e o mundo tiver 9 bilhões de pessoas.

Eu sei, eu sei, existe todo um motivo religioso por trás do enterro e mais ainda emocional, já que para os vivos o túmulo é o elo de ligação com a pessoa morta. Eu seria muito insensível se simplesmente ignorasse isso. Mas no fim das contas não foi essa a razão que me fez aceitar novamente a bizarrice da existência dos cemitérios como algo normal. Foi o fato de que se eles não existissem sem dúvida alguma os filmes de terror e as lendas urbanas seriam mais pobres e chatos. Todo bom aficionado pelo gênero sabe do valor dos cemitérios nas histórias amedrontadoras. Esse, pra mim, é um bom motivo pro depósito de corpos continuar a existir. Dar emprego aos coveiros também.

(ó eu escrevendo sobre cemitérios...)

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Besta em pele de intelectual

(No aeroporto, ao sair da sala de espera dos viajantes de classe “econômica” e se dirigir para a sala reservada aos da classe “executiva”): “E eu sofrendo no meio do povo à toa.”

“Em restaurantes em Buenos Aires sou aplaudido quando entro. É que eu traí os interesses da pátria, então eles me adoram!”


O autor dessas declarações é um velho conhecido nosso. Elas compõem uma entrevista publicada neste mês, em uma revista não muito lida. Passa longe de uma Veja em circulação e formação de opinião, infelizmente. Talvez por isso mesmo ele tenha dito esse tipo de absurdo sem medo de arranhar sua imagem, construída com palavras difíceis e muita pose.
Ganha uma cerveja de garrafa quem adivinhar quem é o dito cujo. Uma dica: acesse o Conversa Afiada, página do jornalista Paulo Henrique Amorim. O link fica ali à esquerda, entre as coisas que eu leio. Boiada, hein!!!
Depois quero comentários. É, porque ler declarações como estas e não formar uma opinião – negativa ou positiva, vai da pessoa – é se fazer de cego.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Lula e o PT, por um petista

Pensando no que postar, tive a idéia de publicar entrevistas com pessoas “comuns” e de cara escolhi Wagner Hosokawa, amigo de longa data do movimento estudantil e do PT de Guarulhos, minha cidade natal. Eu sou filiada há sete anos, ele há dez. Como atualmente é difícil avaliar o governo e o próprio PT só com base na mídia, seja ela de oposição ou a favor, achei que seria interessante ouvir um militante, especialmente ligado à esquerda do partido. E a trajetória política de Wagner fez dele o “cara ideal” neste caso.
Eu o conheci pelos idos de 1998, acho que em alguma visita à minha escola, para incentivar a criação de um grêmio. O grêmio até saiu graças a mim e alguns amigos, mas em uma escola particular esse tipo de atividade não funciona da maneira ideal, não vinga. Como eu queria mais, comecei a visitar o Espaço Cultural Florestan Fernandes, mantido pelo então vereador do PT Edson Albertão – em 2005, Albertão trocou o partido pelo PSol. Lá, Wagner estava à frente de um grupo de esquerda da juventude petista, ao qual acabei me incorporando e acompanhando por cerca de dois anos.
O ingresso na faculdade em 2000 e a chegada da vida adulta me afastaram da militância política de corpo presente, mas não ao Wagner, atualmente com 27 anos. Ele foi membro do diretório do PT Municipal e da Executiva da Macro Região do PT. Também foi assessor político do mandato do ex-deputado federal Luis Eduardo Greenhalgh, mais conhecido como o “advogado do MST”. Hoje, é dirigente do Núcleo Lutadores do Povo, fundado recentemente com a ajuda de outros petistas.
Ou seja, Wagner sabe o que está se passando com o partido porque está dentro dele. É parte viva da base que o compõe e deixa claro que não está muito contente com seus rumos, nem do seu governo. Por quê? Leia a entrevista.

DVACC: Nas eleições internas do PT, em 2002, qual candidatura à presidência você apoiou, a de Lula ou Suplicy?
Wagner: Suplicy, por entender que o momento exigia mostrar ao campo majoritário – ou “ditadura da maioria”, como dizemos no PT – que não concordávamos com o arrefecimento das propostas defendidas pela esquerda para transformar o País.

DVACC: Você se arrepende do seu apoio? Por quê?
Wagner: Não, mas não foi fácil devido ao grande apelo interno do Lula – na própria esquerda defendíamos que era importante tê-lo na candidatura à presidência. Hoje, tenho certeza de que marcar aquela posição significou estar do lado da coerência histórica do PT.

DVACC: Como você avalia o primeiro mandato do presidente Lula e os primeiros meses do segundo? Está de acordo com as expectativas? Quais eram elas?
Wagner: No primeiro governo vivemos duas grandes crises políticas. A primeira foi a das reformas políticas, entre elas a da previdência, a criação das Parcerias Público-Privada (PPPs) e a tentativa de dar autonomia ao Banco Central, sem contar as realizadas na educação. Todas num caminho claro: privilegiar o capital em detrimento do interesse de um desenvolvimento social para o País. As PPPs, por exemplo, são uma maneira de privatizar o patrimônio que o Estado ainda nem ergueu, sendo que o poder da sociedade é maior sobre uma obra ou serviço gerida pelo setor público.
A segunda crise, a do mensalão, foi mais previsível. Ela não teve toda a força noticiada pela mídia, mas como a única coisa que as elites sabem fazer é pregar a “moral e os bons costumes”, e fazer tudo ao contrário debaixo dos lençóis, a Globo, a Veja e suas afiliadas, o PSDB e o PFL (atual Democratas), passaram a dizer: “tá (sic) vendo, eles (os petistas) também roubam”.
O segundo mandato foi mérito eleitoral único e exclusivo do Lula, que só se reelegeu devido a um novo populismo, inventado por ele mesmo e administrado pela “corte” lulista que compõe o primeiro escalão do governo e do PT. Confesso que foi uma vitória melancólica: o clima era do momento e não do processo ou seu futuro. Neste mandato, tinha a esperança de que o amargo do remédio experimentado no primeiro fosse sentido em menor dose, mas os sinais apontam para o pior: um processo de mais mudanças ruins para o povo.

DVACC: Sempre ficou claro que Lula não faria uma revolução no País. Mas era esperada a política de alianças em troca de governabilidade?
Wagner: Em 1994, sagrou-se vitoriosa a tese da “Revolução Democrática”, apresentada no 7° Encontro Nacional do PT e corroborada no 2° Congresso do partido, em 1999. Nós, da esquerda, nos conformamos, pois éramos todos petistas. Mas já estava em curso uma profunda mudança programática que, inclusive, flexibilizava as alianças, já em prática nas eleições municipais. Um panfleto da campanha do Zé Dirceu para governador, em 1994, chamou PMDB e PSDB de “farinha do mesmo saco”. Hoje, os “novos amigos” parecem ter mais importância do que a força popular.

DVACC: Qual seria a alternativa a essa política?
Wagner: Seria, em primeiro lugar, firmar alianças com as organizações populares, pois lá estão os militantes que vão às ruas em nome dos ideais. Segundo, firmar alianças com personalidades progressistas, democráticas e que tenham força na sociedade. Terceiro, conseguir alianças com partidos alinhados com um programa de governo popular.

DVACC: Você ainda acredita no Lula e companheiros do partido que fazem parte do governo?
Wagner: Nunca fui “lulista”, sempre fui petista. Não posso apoiar os “esquemas” expostos durante a crise do mensalão. A disputa interna no PT nunca foi justa e, vendo os privilégios, cifras de dinheiro astronômicas e favorecimentos, percebi porque a esquerda sempre foi derrotada. Eram muitos interesses em jogo, muitas vezes em detrimento do povo.

DVACC: Pensando no governo Lula até agora, qual foi sua maior decepção?
Wagner: Nenhum filiado tem o direito de dizer que foi enganado ou decepcionado, principalmente na condição de militante da esquerda socialista. Em 1998, o diretório do Rio de Janeiro, num encontro democrático e participativo, indicou candidatura própria, mas o grupo majoritário liderado pelo Zé Dirceu impôs o apoio ao Garotinho. Desde daquela época já denunciávamos esse corrupto. Nesse mesmo ano, nossa linha política de programa de governo foi derrotada e o Movimento Sem Terra foi praticamente vetado pela maioria dos candidatos do campo majoritário e da coordenação da campanha do Lula. O governo era previsível, só não esperava tão adaptado aos interesses do capital como agora.

DVACC: E do que você mais gostou?
Wagner: O reordenamento das funções do Estado, a transparência no funcionamento da máquina estatal e a presença de militantes muito capazes em diversas áreas estratégicas. Nunca foi tão claro diferenciar os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. E o Ministério da Justiça, com Márcio Thomaz Bastos, teve um papel importante na independência da polícia federal, reconhecido até pelo jurista Dalmo de Abreu Dallari. Cito, ainda, parte das políticas sociais e as secretarias especiais – das mulheres, racial e de diversidade sexual – , a ênfase na oposição à redução da maioridade penal e a mostra de que o patrimônio bem administrado, como no caso das empresas estatais, significa fortalecimento do interesse público. Mesmo que em matéria de política econômica o governo Lula tenha se rendido muito à lógica neoliberal, os chamados "desenvolvimentistas" têm tido espaço importante na formulação das políticas públicas estratégicas para o Estado, muito diferente do que acontecia nos governos tucanos-pefelistas.

DVACC: Como você classificaria a postura política do PT hoje: esquerda, centro ou direita? Por quê?
Wagner: De centro-esquerda. Vivemos uma situação parecida com a de alguns partidos sociais-democratas da Europa, como o Partido Trabalhista Inglês, que era de esquerda e com a eleição de Tony Blair foi infectado pelo “vírus” neoliberal. No entanto, ainda há vida pulsante no PT, militantes muito valorosos, construindo alternativas de esquerda e socialistas, apesar de no último congresso do partido apenas 4 das 16 teses estarem alinhadas com esse pensamento e com a visão estratégica da revolução.

DVACC: O que você espera do PT nos próximos anos?
Wagner: O futuro aponta para um partido que se adaptou à luta institucional, gostou de governar e seguirá nessa linha por um bom tempo. Nós, da esquerda, disputaremos a eleição com um programa socialista e de defesa do poder popular, pois acreditamos que o mandato parlamentar é um instrumento importante demais para ficar na mão de oportunistas, vendedores de ilusão e aventureiros. Nossa intenção é manter a força a serviço das lutas populares e pelos direitos de todos. Seguimos na construção de uma revolução socialista e batalhamos para todos perceberem que o mais importante é o projeto e não a sigla.